segunda-feira, 2 de novembro de 2020

A autonomia também pode ser demais


Sempre priorizei a construção da autonomia na educação das minhas filhas. Quero desenvolver mulheres autônomas e responsáveis não só pelo ambiente onde vivem, mas também que possam aprender a fazer suas próprias escolhas, sempre.

A autoridade é importante sim, mas a criança tem que ter a liberdade de escolha, não por permissividade, mas sim por que está em desenvolvimento, principalmente da personalidade e pelo pertencimento familiar.

Sempre incentivei o cuidado com os próprios pertencentes, arrumar a cama, retirar pratos da mesa, limpar o que sujou, escolher quais roupas querem vestir e como colaborar com as atividades domésticas. 

Mas é importante perceber em que momento isso pode passar do limite e começar a gerar danos, como por exemplo, minha filha pegar uma bebida na mesa achando que não precisa pedir e esse copo ser de bebida alcoólica. Ou pegar um banco para ter altura do fogão para colocar a própria alimentação correndo risco de se queimar. 

Essa semana em meio ao furacão que já estava devastando o quarto delas há alguns meses notei que essa autonomia, nesse caso, precisava recuar.

Como eu disse, sempre escolheram as próprias roupas, mas dessa vez os danos estavam tirando minha paz e os meus gritos internos pela desordem já estavam recorrentes e me fazendo mal, foi ai que decidir impedir que esse tipo de autonomia continuasse a acontecer, desse jeito.

Foi preciso, todo dia eu tinha esse monte de peças de roupas para organizar no quarto e estava exausta disso, além dos diversos cabides quebrados ao puxar a roupa. Resolvi instalar uma trava nas portas do guarda roupa.

A princípio, elas ficaram bravas e eu incentivei a tomarem consciência das consequências das suas próprias ações e os danos. 

Logo depois, comecei a ver as duas preocupadas de como eu gostaria que elas organizassem suas roupas e perguntando onde tinha que colocar e pedindo ajuda. 

Todas nós ganhamos com isso, eu mais sanidade mental e não ter que arrumar mil peças todas as noites jogadas pelo quarto e elas aprenderam que em todo ato há consequências e que podem ser bons ou não, dependendo dos resultados.

E tudo bem recuar as vezes para avancar de novo, isso faz parte do aprendizado com a maternidade. 

Beijos mamães 

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Hoje eu aprendi com elas

 

Sempre achei lindas as mulheres maquiadas no dia a dia mas a correria nunca me deu a oportunidade de parar para aprender e me dedicar e ter esse tipo de autocuidado. Com o passar dos anos comecei a pensar em fazer um curso de automaquiagem e ter mais disciplina no dia a dia, mas a rotina mais uma vez me sabotou, ou não; eu mesma me sabotei.

Conforme a Bá foi crescendo comecei a notar seu interesse por algo a mais que não tinha na minha prateleira, além do batom, nem sempre usado no cotidiano também.

"Mamãe eu quero ficar linda, você compra "blush"?

Depois dos 5 anos esse interesse por maquiagem foi só crescendo e a cada vez que eu saia de casa ouvia: Mamãe você compra maquiagem de criança? Esse pedido era por que eu não gostava que ela usava os meus batons com receio de ter alergia.

Como eu nunca fui muito fã não estimulei esse comportamento e sempre deixei para lá, sem dar muita importância. Mas quem disse que era coisa só de criança, hoje ela não sai de casa sem batom e sombra e agora na quarentena ela sempre inclui a maquiagem como item de suma importância toda manhã.

"E não é que esse movimento tem me cativado nesse período de isolamento?" Até fui a perfumaria comprar alguns itens novos para compor meu kit maquiagem iniciante, só que agora, compartilhado por três. Elas amaram as sombras e o batom de glitter e eu comecei a amar também esse autocuidado diário. E como mãe, me surpreende, por que a nossa cultura é que os pais são as autoridades e os detentores do saber infinito diante dos filhos, tolos somos nós de ainda acreditar. A cada dia percebo o quanto tenho aprendido com elas, tão pequenas e com conhecimento tão raso da vida.

Aprendo que existem outras formas de ver a vida, as situações, os momentos em família e até os conflitos. Essa quarentena tem me transformado com mulher, profissional e principalmente como mãe, a perceber quais são os valores mais importantes na minha vida, a minha família sempre.

"Mãe eu quero olho de gatinha"

"Ah a mamãe também quer."

"Sério mãe?" Sim, quero ficar linda igual vocês."

E você tem aprendido o que com seus filhos nessa quarentena?

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

A maternidade ideal x real




Essa cara de mãe exausta, sem dormir, sem olhar a luz do sol, ainda se recuperando emocionalmente e fisicamente da cesárea inesperada e vivendo o desespero da falta de péga na amamentação da primogênita.Tbt de 1 mês da minha Bá em 2014. 

Esse semblante retrata a maternidade real tomando o lugar da maternidade idealizada. Quantos sonhos, desejos e expectativas frustradas ali eu vivi, não tive saúde mental naquele momento para lidar com tanta frustração ao mesmo tempo. Lembro bem da pediatra dizendo: 

"Ela precisa mamar, não podemos perdê-la".Vamos esperar e fazer mais algumas tentativas no peito mas acho que vamos ter que introduzir LA logo. Ela não tem xixi na fralda por que ela não mama."

Saindo do consultório aos prantos, meu sonho de amamentar estava indo por água abaixo e minha filha estava passando fome. Já bastava a frustração do parto não ter sido normal, agora mais essa? 

Vive momentos de muita angústia, dor e tristeza e hoje refletindo, eu estava com o meu sonho nos braços como fiquei tão triste? Sim, a maternidade idealizada, aquela dos contos de fadas eu também queria para mim e não veio, foi muito difícil lidar, sofri muito. 

Quando comecei a falar de maternidade com algumas mães nos grupos terapêuticos eu descobri o quanto eu poderia ajudar e tornar a vida daquelas mães mais leves, com menos expectativas, nova percepção e aceitação baseada na maternidade real. Logo fiquei pensando, se eu psicóloga já experiente sofri tanto por ter criado tantas expectativas com a maternidade e vivi noites de angústia e dor emocional, imagina quem não tem conhecimento das causas daquela tristeza, angústia e da dor da idealização frustrada.

Foi aí que surgiu a ideia de unir o meu amor pela psicologia e pela maternidade em propósito de acolher e ajudar no resgate da saúde mental materna. Quero sim poder ajudar mães que sonham com a maternidade, como eu sonhei e que hoje estão com a saúde mental está abalada, exaustas e em algum momento ou outro se vêem ingratas como mães. 

Eu sei que não é fácil, mas a maternidade é uma dádiva e vamos juntas viver esse momento precioso com mais leveza e menos exaustão, ok? 

Isso faz sentido para você mamãe?

domingo, 6 de setembro de 2020

Irmã mais velha: Parceira sim, cuidadora não.


Essa cena me dá um alívio e a sensação de que estamos no caminho certo, a parceria, o afeto voluntário entre irmãs.

Importante reforçar a união, o amor, a demonstração  de afeto e principalmente a parceria. Mas com muito cuidado para não transformar, involuntariamente, a irmã mais velha na cuidadora da menor.

A criança não pode e nunca deve assumir a responsabilidade pelo cuidado e zelo do irmão menor, essa função sempre tem que ser exclusiva dos pais ou de outros adultos do convivo familiar.

Essa cautela é importante para que não se desenvolva na criança maior, uma vulnerabilidade emocional gerada pela imaturidade de assumir essa responsabilidade, mobilizando sintomas de ansiedade infantil pela falta de competência para tanto.

Em vez disso, como mães, podemos reforçar não o cuidado ou transferência dessa responsabilidade, mas sim a parceria e companhia.

❌ Filha você pode cuidar da sua irmã ?
✅ Filha que lindo ver vocês brincando sempre juntas

❌ Filha mamãe precisa tomar banho, você olha sua irmã?
✅ Filhas mamãe vai tomar banho, fiquem juntas brincando e assistindo desenho, ok? 

❌ Mãe preciso cuidar da minha irmã 
✅ Filha, eu cuido da sua irmã você pode brincar com ela se quiser, ok? 

Podemos sim, ter apoio do filho mais velho, mas sempre com o cuidado na linguagem para que a criança não assuma como responsabilidade.

Vamos juntas criar filhos mais funcionais emocionalmente e fortalecer a primeira infância sem antecipar responsabilidades que cabe somente a nós,  adultos.

Bjos de ❤👩‍👧‍👧

A importância do pedido de colo


Mamãe, quero colo (com os olhos marejados). E ela já sabe, sempre terá o meu sim. 

Com o passar do tempo, um dia desses pensando eu; percebi o quanto meu pacotinho cresceu.

E agora, não consigo mais pegar no colo, como assim? Ela só tem tamanho e eu não quero perder esse momento, até
 por que a irmã de 3 anos tem muito colo ainda.

Certo dia ela começou a chorar e eu disse, filha você está enorme e eu não consigo mais pegar você no colo, e agora? Fiquei pensando e disse, sobe na cadeira que eu vou tentar, ok? E não é que deu certo haha, claro que não dá por muito tempo, mas é o tempo suficiente para retomar as lembranças daquele tão sonhado colo que sempre desejei em dar um dia. E com certeza, não será o tamanho que vai me impedir. 

Então fizemos um combinado:

"Filha, sempre que precisar de colo é só pedir que a mamãe dá,  ok? 
Mas mamãe, mesmo quando eu crescer? 
Sim, sempre, até você ficar adulta.
Mas você vai aguentar? 
Sim, mamãe dá um jeito, quando for adulta pode deitar no meu colo."

Aos 6 anos ela tem plena certeza de que sempre terá colo, independente do tempo e do momento e percebo que depois do nosso combinado os pedidos de colo aumentaram. Por que será? A irmã tomou conta do colo dela e ela achou que não teria mais direito ou que teria que ceder sempre e se afastou. 

Talvez eu até tenha deixado passar, pela correria, quando a irmã chegou, mas logo percebi que precisava retomar esse vínculo que também me fazia falta e era essencial para ela se sentir segura e amparada nas suas emoções.

Dê sempre colo, não precisa falar nada, esse gesto pode mudar o tipo de filho adulto que você vai ter, com certeza mais seguro, autônomo e feliz, por que quando ele mais precisou tinha alguém que acolheu e protegeu.

E com vocês mamães, como é por aí? Comenta aqui 👇👇 sua experiência e vamos distribuir os nossos colos infinitamente.

💙👩‍👧‍👧💜

domingo, 23 de agosto de 2020

Maternidade e a liberdade de escolha


ANTES

DEPOIS 

Ei mamães, quantas por ai estão a fim de aceitar a natureza e deixar ela se expressar? 

Nunca imaginei o quão libertador seria grisalhar após os 40 anos. Uauuu, tô adorando ❤

Se tivesse ideia já teria feito aos 15 anos quando os primeiros fios começaram a aparecer tão precocemente. Mas claro, seria um crime na época com a minha adolescência, haha

Quantos padrões, quantas regras, quantas caixinhas já fomos oprimidas e obrigadas a se encaixar durante a vida, nem sei dizer, são tantas, e de uma forma tão automática, né? 

Veja que nem dá tempo de pensar se é aquilo mesmo que buscamos ou queremos, simplesmente há um padrão e uma tal norma coletiva, que inconscientemente, nos devora todos os dias, sem percebemos. 

Eu tenho quê mesmo.....🤔

❌Eu tenho que tirar a orelha das minhas filhas ao nascer
❌Eu tenho que parar de amamentar depois dos 6 meses
❌Eu tenho que dar fórmula nos primeiros meses para o bebê se adaptar 
❌Eu tenho que dar conta de tudo por que escolhi ser mãe 
❌Eu não posso querer ficar longe das minhas filhas por que sonhei em tê-las
❌Eu tenho que colocar na escolinha logo para voltar ao trabalho.

✅Eu tenho que me sentir bem comigo mesma, sempre, independente daquilo que tenta me oprimir de perto ou de longe. 

Mesmo a sua pequena dizendo: Mamãe, eu não quero uma mamãe vovozinha 🤣🤣🤣

Ah filha, sinto muito, mas a mamãe tá adorando ser vovozinha. ❤

Bendita quarentena, me deu a oportunidade após 5 meses, de me reinventar por completo, por dentro e por fora, como mulher, profissional e mãe.

Vamos? Aproveita o embalo aqui mamãe, comenta se arrisca na coragem 👇👇👇👇

sexta-feira, 19 de junho de 2020

A criança pequena e o seu produto


Em um belo dia resolvi fazer macarronada para as minhas filhas e logo fui para o meu quarto trabalhar - período de quarentena - e deixei o pai com elas; pedi para que ele servisse o jantar.

Logo depois, para a minha surpresa, ele me disse que a Eloá - 3 anos - não quis comer nada do macarrão. Estranhei porque ela nunca recusou macarrão. Fiquei pensando naquela noite sobre porquê disso ter acontecido.

No dia seguinte, ele comentou comigo que ela foi ao banheiro e o chamou para higienizá-la porque ela havia feito o número 2; ela pediu para ele ver o produto dela dentro do vaso, parecia que precisava de aprovação do pai para algo que ela tinha acabado de produzir. Ele brincando disse: Nossaaa, quantooooooo.

Passando-se algumas horas ela falou para o pai que não comeu o macarrão porque fazia muito número 2.

Hum, agora captei a vossa mensagem, querida filha.

O produto dela, pela sua leitura baseada no comentário do pai, era algo fora do normal e impróprio, por isso deveria ser banido da vida. O mais interessante é que o macarrão pagou o pato. O pai dela me revelou que já tinha falado, brincando, sobre o número 2 dela há algum tempo, várias vezes, aliás, bem antes do macarrão virar assunto.

Ai papai levado...

Para desconstruir essa leitura equivocada e fantasiosa dela, criada pela fala do pai, eu precisei intervir nesse momento em relação ao número 2 e comecei a elogiar o produto dela dizendo que era lindo e bonito. Ela, com muito espanto, após a minha fala, quis ver e ter certeza de que eu tinha razão e pulou do vaso para reconhecer a sua obra prima haha. Com esse ímpeto logo percebi que, realmente, a leitura dela não era de que produzia algo bom, devido o seu espanto em ouvir um elogio do seu produto.

Como criança pequena, ela ainda não sabe assimilar o que é piada e o que verdade, já falei isso para o pai várias vezes, mas ele ainda insiste, aff (temos a mania de lidar com as crianças como se fossem adultos, mas esse assunto merece um post à parte). E ela começou a projetar no macarrão o grande vilão da história e queria bani-lo de qualquer jeito da sua vida.

"Não posso ter um produto impróprio, que espanta o meu pai. Isso é ruim, feio, inadequado, e preciso fazer algo para que isso não aconteça mais."

O mais importante que precisamos perceber aqui é: a criança pequena está em um processo de autoafirmação no mundo e precisa ser aceita em todos os níveis de relações, principalmente no que se refere ao que ela produz: seja o número 2, um desenho, um boneco de massinha, etc. Em tudo que ela produz busca aprovação. Precisa que o seu produto seja aceito e não rejeitado ou inadequado. A sensação de inadequação é algo nocivo, que remete à sua própria identidade, e é doloroso aceitar que não é aceita em algum momento. Não que ela não precise lidar com a frustração, sim, precisa, mas não nesse episódio de produção.

Importante nós, pais, tomarmos consciência da influência das nossas falas, mesmo que sejam na brincadeira, e entendermos o poder e o peso que podem definir a leitura disfuncional dos nossos filhos, não só na infância, mas para toda uma vida. Imagine se não houvesse intervenção, uma crença de inadequação estivesse ali sendo construída e reforçada ao longo da vida e nada do que ela produzisse fosse bom. No futuro, o dano estaria feito.

quinta-feira, 18 de junho de 2020

A criança e o medo de perder o brincar


Após 2 meses sem aula e sem poder ir a escola, a minha filha de 5 anos reclamou que estava com saudade de brincar na escola, disse que todas as vezes que tinha uma atividade, logo depois, eles brincavam no parque e ela sempre esperava por esse momento. 

Lembro bem que uma das minhas prioridades com a educação infantil para ela sempre foi que o lúdico fosse presente e intenso dentro da escola, é um período tão curto e ainda mais para as minhas filhas, visto que a mais velha ingressou na educação infantil somente com 3 anos e meio. 

Retardar o acesso a escola foi uma das opções que eu escolhi para a minha maternidade porque eu priorizava fortalecer o vínculo afetivo comigo antes delas saírem para desbravar o mundo sozinhas. Eu acredito que deu certo e alcancei meu propósito, porque hoje ela é feliz em ir para a escola. 

Agora com a pandemia, já no último ano de educação infantil, iniciaram as aulas online e meu coração de mãe já se apertou em saber que o lúdico já ficou para trás tão abruptamente e que só restaram as atividades via computador para encerrar o ano. Que dó! O brincar com os amigos da escola daquela forma que ela tanto esperava, ansiosamente, foi tirado dela. 

Logo depois, ela já tinha feito algumas aulas online e demonstrou muita motivação e dizia que adorava estudar para ser inteligente; com o passar dos dias, quando ela percebeu que era só aquilo e que o brincar não existiria mais ela questionou: "Mãe, a atividade é só no computador?" E eu disse: "por enquanto é filha, não dá para voltar para a escola, você sabe." 

No dia seguinte eu a chamei para a aula e ela disse que não queria porque gostava de matemática e a professora não ensinava matemática pelo computador. Logo eu disse que ela iria ensinar, e ela tinha que seguir o livro da escola. Ela, não convencida, falou que só ela que tinha aula e a irmã não tinha, e que poderia ficar só brincando e que ela também queria só brincar, começando a chorar. 

Eu logo notei que algo não velado estava ali naquela fala e naquele choro, ela chorava pela perda do brincar e pela obrigatoriedade só do aprender de um modo que ela já não estava gostando: pelo computador. Não era competição com a irmã e sim o luto do brincar; e ela nem sabe o que vem pela frente com o fundamental, dessa vez doeu mais em mim. 

Engraçado porque ao mesmo tempo levei um susto, eu amo matemática, nossaaaa, a mãe odeia haha. Mas fiquei feliz de saber que ela pode ser diferente de mim e vai buscar seu lugar ao sol do seu jeito e não do meu. 

Caso eu não tivesse percebido a dor do luto pelo brincar talvez eu tivesse sido mais rígida com ela, porque não queria fazer a aula. Mas como eu disse antes: o lúdico sempre foi prioridade nessa fase e a mesma dor dela está doendo em mim também, com muito mais intensidade, é claro. 

Precisei normalizar a emoção dela e dizer que eu estaria junto com ela sempre, mesmo se ela não pudesse mais só brincar na escola e que ela poderia brincar depois da aula igual a irmã. Ela entendeu, parou de chorar e pediu uns cálculos de soma para fazer antes da aula começar e ficou mais tranquila. 

Percebi que o brincar foi substituído pela matemática; "preciso de algo que me motive a continuar estudando já que eu não tenho mais o brincar e a matemática foi a escolhida". Ela até comentou que só queria aprender matemática e eu disse que isso só seria possível quando ela fosse adulta e que poderia escolher estudar só matemática, mas que até lá precisaria aprender de tudo um pouco. 

Ainda notei uma certa angústia no olhar, mas que foi suavizando com a minha presença e com a certeza de que eu estaria com ela para o que der e viesse. 

Importante tomarmos consciência das causas das emoções dos nossos filhos e nunca reagirmos na impulsividade e conforme a nossa regra naquele momento, eles não sabem identificar por que se sentem mal por algo, e as emoções sempre vão vir acompanhadas de choro e irritação para expressar alguma dor, principalmente a perda de algo muito importante para eles. 

Eu sei que não é fácil, mas o diálogo com a criança faz a causa daquela emoção ficar mais visível e, aí sim, podemos tomar providências baseadas na causa e nunca na expressão da emoção e do comportamento inadequado. 

Lembrem-se, nós adultos às vezes também não sabemos por que estamos com emoções negativas e nos perdemos em comportamentos inadequados, imagina uma criança que ainda não tem um cérebro totalmente desenvolvido, né? 

Vamos aprender a fazer um melhor leitura da linguagem não verbal dos nossos filhos, a saúde mental deles agradece.

terça-feira, 9 de junho de 2020

A louça e a busca da criança pelo seu espaço


Depois que Elô nasceu, há 3 anos e meio, eu me deparei com uma maternidade inimaginável. Aquela maternidade que eu conhecia com a irmã era fichinha, acreditava que já tinha aprendido tudo a respeito de um bebê recém nascido, haha, salvo engano.

Sempre ouvi outras mães falando que os filhos eram diferentes, mas nem sempre eu levava muito a sério e pensava: "Mas se a educação vai ser a mesma por que vão ser tão diferentes?" Hoje sei o porquê. São pessoas diferentes, independente de terem os mesmos pais e a mesma educação... mesma?! Não, também era um outro engano, nunca é a mesma educação, pela mesmo motivo, são diferentes.

Bom, mas outro dia conto um pouco mais sobre essas diferenças entre irmãs, hoje quero comentar um pouco a loucura que é agradar as duas ao mesmo tempo, acolher ao mesmo tempo e dar atenção ao mesmo tempo.

Hoje a Elô resolveu que queria lavar a louça, até que eu estava disposta e deixei, com a minha supervisão. Mas logo pensei: "daqui a pouco a irmã vai ver e vai querer a mesma coisa, é só uma questão de minutos". Dito e feito: "Mãe também quero ajudar."

Então os meus neurônios já começaram a ficar atentos para a necessidade de desenvolver um novo recurso de enfrentamento do conflito que estaria por vir. "Mãe, tem outra bucha para eu também lavar a louça?" "Não filha, não se lava louça em dupla." Não poderia mentir, minha filha teria que lidar com a realidade, mesmo eu sabendo que ela está com ciúmes da irmã porque ela está fazendo algo legal (haha, quero ver com 15 anos) e ela não.

Logo veio o choro, óbvio, e a mãe aqui, devido às diversas situações semelhantes, começou a desenvolver uma habilidade única de resolução de conflitos emocionais em períodos de competições das duas, aff... Que difícil! Mas temos que pensar muito rápido, tem dado certo.

A solução foi: faltava meia-hora para a aula da minha filha que estava aos prantos e a convidei para fazer a preparação para a aula. Segundo dia, super animada ainda, eu já projetei essa animação e deu certo. Ela adorou, esqueceu da louça e da competição, se dirigiu a mesa e já ajudei a preparar o material para a aula online, ela se sentiu importante sendo a única que vai ter aula online e a irmã não. Pronto, seu objetivo foi cumprido, se destacar e fazer algo legal e não ficar para trás e deixar a irmã há alguns metros à frente dela.

A maternidade nos coloca em lugares que precisamos ressignificar nossos valores e crenças aprendidas e entender que os conflitos que surgem com os irmãos não são conscientes ou voluntários, todos querem seu lugar ao sol, até nós adultos lutamos por nosso território diariamente, por que com os nossos filhos vai ser diferente, né?

Vamos respeitar esse momento deles, até porque nós somos os adultos da relação e eles se inspiram em nós como modelos e, por isso, temos que buscar soluções e não nos encharcar de emoções de contrariedade, raiva, e punir nossos filhos porque querem seu lugar ao sol.

A maternidade pode sim: transforma-dor

sábado, 6 de junho de 2020

O milho cortado e a previsibilidade das crianças



Minhas filhas tem muita dificuldade em experimentar qualquer tipo de legumes e frutas, desde bebê sempre comeram de tudo, mas depois dos 2 anos em diante começou o processo de seletividade, aff.

Há algum tempo a Bárbara começou a demonstrar interesse por milho, aleluiaaaa, todas as vezes que vou ao mercado não posso deixar de comprar. A propósito, na última semana eu aproveitei e comprei logo 3 pacotes de milho porque a última vez até o pai delas reclamou que ficou sem milho, visto que a filha tinha devorado todos, ebaaaa.

Bom, fiz dois pacotes logo de uma vez, exatamente para não ter reclamações, limpei os milhos, cortei ao meio e cozinhei todos, era milho hein. Ainda bem que a irmã também já demonstrou interesse, pelo menos isso: são iguais, aiaiai, o pai também. É bem difícil aqui, a feira que faço se perde porque só eu devoro os legumes em casa.

Como estou trabalhando no período da tarde nessa quarentena, que já virou "setentena" haha, deixei os milhos cozidos na geladeira e ofereci os primeiros, hummm, amaram.

O papai esqueceu de oferecer novamente os milhos na hora do lanche da tarde e eles ficaram para o dia seguinte. Ao oferecer novamente Bárbara já disse que o milho estava estranho, com a água estranha (água?), entreguei ele seco dentro de um prato para ela.

Conclusão do dia: adivinha para onde foram os milhos? Sim, para o lixo, a irmã ouviu ela falando que o milho estava estranho e também não quis mais. E o papai? Reclamão, também esqueceu de comer.

E o terceiro pacote? Ah, pensa que eu esqueci? Não, resolvi fazer alguns dias depois, mas dessa vez não cortei os milhos, pensei, ah elas vão adorar um milho inteiro...grande.....Cozinhei e ofereci. Elas ansiosas pelo milho. Eu fiquei super feliz e orgulhosa.

Quando viram o milho grande, sempre a Bárbara: "mãe..." - suspense (já infartando na cozinha só em adivinhar). "Fala, filha...". "Esse milho é muito grande, gosto de milho pequeno, mãe... não quero".

A Maria vai com as outras da irmã, também não quis. Nessa hora, bufando, fui para o quarto para não surtar na frente delas e pensei: gente, nada funciona com essas pessoas, não sei mais o que fazer. Pensei: mamãe respira, não pira, quem mandou você não cortar o milho dessa vez, sempre deu certo cortado, por que você inventa moda hein? Aff, tudo bem, a culpa foi minha dessa vez.

Voltando para a sala, meninas já comeram o milho? Sumiu? Cadê? "Mãe, ele tava ruim e grande e eu joguei no lixo". 😱 "Eloá, cadê o seu milho?" "Mãe, eu joguei no lixo porque era muito grande."

Mamãeeeeeeeeee, respira, não pira.

Dá próxima vez vê se aprende a não cortar o milho mamãe.

A psicóloga esqueceu que crianças pequenas gostam de previsibilidade e não de inovações, principalmente no que diz respeito a alimentação delas.

É manhê

O bolo de abobrinha e a angústia materna pela alimentação saudável


Durante esse período de isolamento social eu, em meio as minhas novas artimanhas de mãe de duas meninas, me vi obrigada a criar novas rotinas para entretenimento das pessoinhas. Tadinhas, pressas em um apartamento de 70 metros quadrados há mais de 2 meses não é fácil para ninguém, ok?

Eu amo cozinhar sim, mas não todos os dias, aff. Pensei em inventar novas receitinhas para as pessoinhas começarem a provar novos sabores, principalmente aqueles que elas sempre recusam: 😏 legumes. 

Fui me aventurar em fazer um bolo de abobrinhas, hum, imaginei o sabor, eu adoro legumes. Bom, começou o preparo e a Bárbara - 5 anos - veio e me perguntou se eu estava fazendo um bolo; e eu disse que iria sim fazer, eu cortando as abobrinhas não poderia confirmar que já havia começado, óbvio, ela não comeria um bolo de abobrinhas. 

Bom, fiz o preparo, mas eu sempre tenho um leve problema culinário: sempre suspeito que exagero nas minhas receitas haha. 

Bolo já no forno, quase não coube na forma aiaiai, realmente exagero até no tamanho da massa, simplesmente, eu acreditava. 

Passaram-se 40 minutos e o bolo mole, aff, o que eu fiz de errado dessa vez? Sabe-se lá, muita massa, lembra? quase não coube na forma, ah tá. 

Vamos esperar mais um pouco......mais 40 minutos e o cheiro de bolo queimado, ai, deu tudo errado mesmo haha, nada, só o excesso de bolo caindo para fora da forma haha, ufa. 

E já se foram 1 hora e meia e o bolo nada, mole, ai droga, não consigo fazer nada saudável para as minhas filhas, que saco! 

Lembrei, acho que foi excesso de abobrinha e ele não vai ficar bom, vai virar um pudim, snif. 

Dito e feito, virou um pudim de chocolate; claro, não contei, tive que colocar chocolate em pó para elas não perceberem que era de abobrinha haha. 

Falei para as meninas, vamos colocar cobertura de chocolate com MM´s? Hum, vamosssssssss, aquele entusiamo ecoou pela casa inteira, ai que lindo elas vão amar meu bolo camuflado haha. 

Bolo pronto, cheio de MM´s e chocolate derramando da bandeja, vai ser lindo, elas vão amar! 

Logo escuto ao fundo: "mãe? que bolo é esse? parece bolo de caneca". (não sei de onde tirou isso). Bolo de caneca, filha, não, é um bolo de chocolate diferente do da vovó. 

"Ai, mãe, não gosto de bolo de caneca"....a irmã, Eloá de 3 anos, escuta e olha para o seu pedaço e diz: "Também não gosto de bolo de caneca, mãe". 

Lá se foram minhas quase 3 horas de dedicação a algo diferente e estimulante para saborear durante esse isolamento social, que me faria muito feliz por ser um alimento um pouco mais saudável. 

Moral da história: mamãe respira, não pira, vai passar...outra dia vai dar certo.

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